. Desenhos de Santiago Ramó...
. O Caminho para a Memória ...
. Balanço do Dia da Ginásti...
. ...
. ...
O Fringe, série que passa na 2 às quintas, pode não ter determinados méritos como, por exemplo, a mínima coerência narrativa, mas no que toca a fantasias científicas é excelente. No episódio que passou nesta quinta-feira, andaram a transplantar-se partes de hipocampo de forma algo promíscua, realizaram-se neurocirurgias de improviso e desenvolveu-se todo um novo método de armazenagem e recuperação de memórias, o que me leva a recomendá-lo. O nome do episódio é Grey Matters, e podem vê-lo aqui. De bónus, levam a função do hipocampo (memória a longo prazo, e mais umas coisitas, mas isso não interessa para o caso), o problema da "leitura de pensamentos" (cada cérebro é único, o que leva a que toda a informação que lá está esteja codificada) e, muito importante, o link do Project Free TV, que dá sempre um jeitaço.
Caiu-me o queixo esta manhã, quando, no furo horário que há ali na quinta-feira de manhã, peguei na SuperInteressante deste mês, essa fonte de luz e esclarecimento para todos os alunos de Área Projecto, e dei com um artigo sobre procrastinação. Que, valha-me Deus, até foi roubar a expressão da TMT ao Procrastinus, exactamente como nós.
A minha única pena é que por pouco não pusemos aquilo no blog antes de Fevereiro, o que provaria que não foi inspirado na revista, e nos tornaria bastante fixes por sermos percursoras da SuperInteressante. Assim, lá andámos a remexer no inglês quando podíamos ter plagiado um bonito texto em português, e ficámos sem a glória. Uma pessoa fica chateada.
*Referência ao caso em que a Ana Malhoa se sentiu ofendíssima com o plágio da Rihanna. Nós sabemos que dói.
Denise,
incondicionalmente apoiada pelo resto da trupe
Quem seguiu o nosso blog antes do reinício, lembrar-se-á dos nossos posts sobre os primeiros passinhos da neurociência. Mais não seja porque foi das poucas coisas que cá pusemos.
Os primórdios da neurociência foram bastante… suis generis, digamos, e é no espírito carnavalesco que eu vou recuperar esses textos dos nossos tempos mais indecisos.
Parte 1: Trepanações e outras ofensas ao cérebro
As trepanações (buracos na cabeça) são um dos maiores mistérios da antropologia. O crânio trepanado mais antigo que foi encontrado tem 7000 anos, mas a loucura da trepanação foi durante o Eneolítico (2400-1700 a.C.), em que não havia coisa mais chique, e era mais usado entre os homens. Devia ser mesmo muito chique, uma vez que por certo era realizada sem anestesia. Estas cirurgias improvisadas continuaram até à Idade Média (época em que a taxa de sobrevivência era muito menor; caso para dizer que os medievais eram piores que trogloditas) e, tãrã!, até à actualidade. Bart Huges defendeu acerrimamente que uns buraquinhos na cabeça só faziam bem ao espírito: supostamente, a trepanação reduz a pressão sanguínea no cérebro, provocando uma melhor oxigenação do cérebro, o que faz disparar a nossa inteligência, curar as nossas depressões - e só não dá milhões porque, enfim, deve ter sentido que para esse propósito haviam as lotarias. Bart Huges escreveu uma bonita obra, com um título destinado a um best-seller, Homo Sapiens Correctus; o livro acabaria por inspirar um site que ganhou a honrosa classificação de um dos mais estranhos sites de toda a Internet. Ser das coisas mais estranhas da Internet não é coisa de pouca monta.
Para que serviam as trepanações? Afastar espíritos malignos? Um passo interessante em rituais mágico-religiosos? Intervenções de emergência quando uma seta se desviava para o sítio errado?
Mais, quem diz que os nossos caros antepassados não estavam a tentar fazer uma neurocirurgia? Bem, os cientistas dizem. A cabeça sempre foi ignorada como centro do corpo humano, e a relação entre lesões cerebrais e perda de capacidades como a visão e a fala era muito pouco óbvia às civilizações antigas. No Egipto, para além das indignidades que o cérebro aquando a sua extracção das futuras múmias, era facto aceite que era o coração que pensava. Qual o argumento que sustentava esta belíssima tese? O coração bate mais depressa quando estamos aborrecidos ou excitados. Soa bem, ahm? Entretanto, esta perfeita idiotice também era defendida pelos Gregos: Aristóteles, não lhe bastando meter o nariz na filosofia, na matemática e na política, também quis ter a sua opinião na neurociência. Esta brilhante mente concluiu que o cérebro era um simples e evidente sistema de refrigeração do sangue. Assim, quando nos constipamos, o nosso sistema de refrigeração transborda e o nosso nariz pinga. [O nosso grupo deliberou e considerou que esta teoria era definitivamente um insulto ao cérebro, pelo que decidimos propor a este senhor que não volte a intervir na biologia, pois não é o seu forte.]
Foi então (na verdade, não; ele viveu antes de Aristóteles, mas referir esse facto estraga a coesão narrativa desta história e, como tal, ignoremos este detalhe), que um médico grego de nome Alcmeno de Cróton percebeu finalmente o papel desempenhado pelo cérebro, tendo, no meio da sua rotina diária de dissecar cadáveres, reparado na ligação existente entre os nervos dos globos oculares e o cérebro. Também teve a presença de espírito de notar que pessoas com lesões no cérebro não batiam bem da cabeça - maravilhosa expressão esta que esteve vedada aos egípcios e gregos (talvez dissessem "não bates bem do coração". O que também era uma belíssima frase para, sei lá, vender a uma novela. TVI, chega-te à frente.)
Ilustrações fofinhas de trepanações, para quem gosta de imagens antigas (e outras bizarrias): (1), (2), (3), (4), (5), (6),
Parte 2: Frenologia, ou as maravilhas da pseudo-ciência vitoriana
Algures na Alemanha do séc. XVIII, consta que um rapazinho chamado Franz Joseph Gall começou a interessar-se por um colega de olhos bojudos. Não era um caso de homossexualidade combinada com um fetiche estranho, o que teria sido, cremos, muito pouco bem-visto à época. O interesse de Gall era científico. Não tardou a apresentar a teoria de que as pessoas bojudas eram melhores na leitura (coisa que ele observou; não deve ter sido um estudo muito rigoroso, mas estávamos no séc. XVIII. Quando se tratava do cérebro, qualquer opinião ou teoria passava) porque a parte que estava por trás dos olhos era mais desenvolvida; logo, essa era a parte do cérebro responsável pela leitura. Gall passou o resto da sua vida a examinar crânios de criminosos executados, tentando descobrir que protuberâncias codificavam comportamentos violentos. Supomos que tenha sido muito feliz.
A frenologia foi muito apreciada durante a época vitoriana, e uma útil ajuda nas árduas tarefas de escolher empregados e marido.
A frenologia foi completamente desmitificada, desmontada, arrasada, e às suas ruínas, depois de calcar mais um bocado, foi posta a etiqueta de pseudo-ciência. A forma do crânio parece não ter relação com a forma como se porta, e o cérebro não se pode dividir em orgãos para, por exemplo, a auto-estima, a firmeza, a veneração, a amizade, o tempo, a idealização, a esperança e a destruição (esta era mesmo por cima da orelha). No entanto, há que lhe reconhecer o mérito de ter introduzido a noção de localização de funções cerebrais, ideia cientificamente aceite, mas vista de uma forma muito mais complexa e menos linear que bonitas divisões arbitrárias. Para mais, temos apanhado em muita pesquisa a ideia que quanto maior for a área cerebral, mais desenvolvida é, a par de observações da circulação sanguínea (que indicam quais são as áreas que consumem mais energia, e portanto mais usadas). Se esta relação tamanho/desenvolvimento é verdadeira ou não, não podemos ajuizar. O certo é que a frenologia é muito, muito gira, e ligada a muita gentinha doida.
Mais imagens bonitas: (1), (2), (3)
Frenologia aplicada a personagens:
Uma das maiores chatices do nosso trabalho é estar a tentar descobrir formas de melhorar o nosso desempenho antes de sabermos como devemos melhorar o nosso desempenho na tarefa de descobrir essas coisas... Sim, é bastante paradoxal e faz dor de cabeça.
Uma das coisas que me mais me atrapalha a vida é a procrastinação. Palavrinha mui celebrizada pelo "5 para a Meia-Noite", segundo consta, procrastinação significa o acto de adiar uma tarefa que nos propomos a fazer naquele exacto momento, mas que por alguma razão nos põe a ver e-mails, a visitar a nossa conta esquecida no facebook, a comer, a afiar lápis (submissões abertas para as coisas mais estranhas que acabaram a fazer para não trabalhar). A tarefa indutora de procrastinação tem normalmente um prazo (muito, muito distante - mesmo que seja de menos de uma hora), é importante e longa, e simplesmente não conseguimos começá-la. Ou levá-la para lá daquele momento, duas horas antes, em que parámos para fazer uma pequena, pequeníssima, pausa.
Sabem do que estou a falar? Se sim, têm a minha compaixão.
De onde vem a procrastinação? Uma ideia comum é que adiamos o trabalho por perfeccionismo; o Litemind (um dos sites que são as meninas dos nossos olhos) e o Procrastinus (site divertidíssimo que achei enquanto andava nestas andanças) discordam desta tese, e toda a minha vida é um argumento contra. Eu costumo culpar a ansiedade, mas o Procrastinatus desmente esta teoria. Importa dizer que este site, o Procrastinus, foi desenvolvido por um dos maiores investigadores do fenómeno da procrastinação, Piers Steel; a teoria para a procrastinação que é apresentada é dada por uma equação (mais ou menos) matemática:
Em que:
P - preferência pela realização da tarefa
E - expectativas para o trabalho (probabilidade de sair ali alguma coisa de jeito)
V - valor da tarefa
S - sensibilidade pessoal para adiar
A - atraso da recompensa em relação à conclusão da tarefa
Mas o que o procrastinador inteverado quer realmente saber é onde é que se apertam os parafusos e se resolve o problema. Ninguém me vai querer ouvir a ladaínha do costume sobre não haver soluções objectivas e haver muitos factores em jogo e...
Portanto, receitas mágicas para acabar com a procrastinação:
Alguém disposto a testar estas teorias? Se se resolverem a isso, façam as honras e digam como correu.